15/09/2009

Parábola da amizade


Pensemos no duplo do cinema. Em toda a amizade há sempre algo que sugere a relação entre um actor que faz cenas perigosas e o duplo que o substitui. A função do duplo, como sabemos, é libertar o actor dos riscos envolvidos nas cenas mais violentas, perseguições, escaladas, saltos mortais; riscos que o actor não pode ou não é capaz de assumir. Duplo e actor dependem por isso um do outro. O duplo oferece a sua destreza, enquanto sem actor não há sequer filme. Tal como na amizade, existe aqui uma certa transacção. Temos amigos quando temos (somos) duplos.

Admitamos agora que o duplo não cumpre bem o seu papel, que lhe faltou perícia nalgum momento, que ele mesmo se coloca em posição de risco. Quem irá então socorrer o duplo? Quem será o duplo do duplo? De certo modo, podemos dizer também que essa é a questão central da amizade: quem é o duplo do duplo? Esse é o risco que o "contrato" entre os dois, duplo e actor, nem sempre consegue antecipar.

Acaso sou eu o guarda do meu irmão?

Sem comentários:

Enviar um comentário