24/09/2009

As amizades especializadas

Isso que chamamos de eu é o quê? Todos precisamos de amizades especializadas. Pessoas que criam amizades com propósitos definidos: praticar natação sincronizada, ouvir a música do Cat Stevens, debater programas políticos. Os amigos servem para certas alturas, no sentido rigoroso em que aquilo que fazemos com uns, não fazemos com outros. Não existem limites à especialização. Os amigos do ténis ou de qualquer passatempo domingueiro não são os que encontramos nos congressos sobre poesia francesa. A vida é pensada e organizada como uma colecção de ficheiros. E a única maneira de garantir a sobrevivência dessas amizades diferenciadas, como lhes chamou Simmel, é evitar que elas se misturem, que se contaminem pelo conhecimento recíproco. As amizades especializadas impõem-nos uma cultura do segredo para nos protegermos e para protegermos os nossos amigos. Não são fáceis de gerir. Mas sem amizades especializadas não pode existir sociedade. 

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