08/09/2009

Problemas da amizade

Nunca pensamos na amizade como problema. Pensamos na família, no amor ou no casamento como problemas. Até nos preparamos para eles, usando a nossa melhor armadura, aprendendo as regras que existem e outras que vamos descobrindo ao acaso. O livro de instruções está em português acessível: uma certa disciplina, uma certa abstenção, um realismo feliz, a lei do sangue, they fuck you up your mum and dad, psicoterapia às terças e quintas, o amor dura pouco mas achei-o tão fungível da última vez, umas vezes és tu que deixas, outras deixam-te  a ti, o romantismo, grande e espectacular invenção do mundo. E que ninguém afirme depois disto que não estávamos avisados. Sabíamos quase tudo. Em 2009, nunca ninguém nos garantiu que não iríamos falhar. 

A amizade é que não; esqueceram-se dela; foi silenciada, diminuída, marginalizada nas consternações, preocupações e amuos da civilização ocidental; não exerce sobre nós o mesmo dramatismo; não convida a termos as antenas todas ligadas. Talvez porque a tomamos como segura, matéria prática que é, achamos que não há muito para dizer; ou talvez porque a amizade não é bem um sentimento mas cosa mentale, um baile de máscaras onde toda a gente está a salvo até das próprias modulações de voz. A amizade ninguém pensa como problema.   

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