Não sabemos o que esperar de uma amizade antes de testarmos o nosso próprio instinto de sobrevivência e o dos outros. Antes de percebermos se queremos ser vítimas na amizade, ou se temos espaço para uma agressão justa e retributiva à agressão.
Quando os dois nos desentendemos com violência e eu disse o que não devia e me arrependi logo daquilo que disse, tentei recuar para um estado que permitisse alguma reparação. Depressa percebi que era impossível. Eu podia ser vítima se ela também escolhesse ser vítima ou agressor se ela também fosse agressora. É o que explica que em certas amizades as zangas entre amigos acabem resolvidas de um modo virulento, aberto, sem concessões. Têm mesmo de ser. Vítima contra vítima, agressor contra agressor.
O que não podia acontecer era eu assumir-me como vítima para ela responder como agressora, nem ela insistir em ser vítima diante da minha agressão. Nesse caso, só havia uma coisa sensata a fazer, talvez por falta de alternativa: terminar a amizade. Chamemos-lhe a selecção natural dos amigos.
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