R. conheço-o há pouco tempo. Moramos no mesmo bairro; encontramo-nos de quando em quando ao café. Conversamos com gosto e tenho empatia por ele. Já pensei: podíamos ser amigos. Pensei também: se já estivemos juntos várias vezes, ainda que por acidente, suponho que chegue para acharmos ambos que somos amigos.
A partir de quando transitamos da fase do conhecimento para a da amizade? O hábito de duas pessoas se verem ou serem vistas com frequência não pode ser suficiente. Será então quando as duas passam a agir intencionalmente como amigos? Mas como calcular essa intenção, essa espécie de agir performativo, como reconhecer os indícios da amizade? Nos contactos entre eles ou nos contactos com os outros? Se num diálogo com outra pessoa eu me referir "ao meu amigo R." estou a assumir uma intenção que pode até nem ser recíproca. Deverei fazê-lo por defeito? Devo converter todos os meus conhecidos em amigos? E isso não dirá nada de mim?
No amor facilitamos o problema porque fazemos declarações. Mas ninguém faz declarações de amizade.
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